O cheiro de gasolina da infância

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Rio Negro e a lancha da infância

No domingo, fomos à casa da minha sogra (estamos respeitando o isolamento social, vamos quinzenalmente lá, porque isso se fez importante depois que perdemos meu ‘sogro’) e paramos para abastecer o carro. Meu filho comentou que achava o cheiro de gasolina ruim e meu marido lembrou que na infância dele, ele gostava de sentir esse cheiro. E eu complementei: “Eu também gostava, esse cheiro me lembra dos meus passeios de barco quando era criança e a gente parava no meio do rio para abastecer”. Davi pirou: “Você já andava de barco quando era pequena?”

Morei em Manaus até praticamente meus 10 anos. Nasci lá e um passeio comum, comum entenda como quase todos os fins de semana, íamos passear de lancha. Meu tio Rodrigues (que há 4 anos vive em forma de saudade no meu coração) tinha um barco maiorzão quando éramos mais novas e depois ele trocou por uma lancha e é dela que minhas lembranças são mais fortes. A gente andou muito ali, eu amava! Amava todo o ritual que antecedia o passeio, tudo o que os adultos precisavam separar, os coletes de cor laranja, escolher os lugares que a gente sentava na lancha, parar no meio do Rio Negro e pular da lancha num mergulho corajoso, porque a gente não enxerga nada embaixo d’água. Rio Negro tem cor de coca cola, para a sorte da coca cola. A gente escolhia uma praia, parava a lancha e ficava ali um tempo. Também parávamos num restaurante flutuante e almoçávamos…e a chatice era esperar a digestão para voltar a nadar no rio. Peixe Boi se chamava o flutuante que sempre íamos, lembro até hoje. E em determinado momento do passeio, a gente parava para abastecer. Aquilo era quase mágico para mim, um posto de gasolina no meio daquele riozão, flutuando. E o cheiro. Até hoje é para este lugar que o cheiro de combustível me leva. Um lugar com uma das paisagens mais lindas que já vi, um Rio que só é possível ser entendido para quem já viu, a cor, o tamanho dele…difícil achar palavras que realmente o descrevam de forma fiel. Um lugar que me traz lembranças super doces e divertidas da minha infância, da minha relação e da minha irmã com meu tio, que sempre foi muito forte.

Quando tenho esse tipo de retorno a algum ponto da minha infância, sempre volto ao presente como mãe. E me pergunto que tipo de memórias tenho criado na vida dos meus filhos, o que tenho proporcionado de experiências na vida deles que os marquem de forma que, daqui a 30 anos, eles consigam voltar a um ponto de amor, segurança e alegria vivido no passado. Se me perguntarem para contar sobre meus brinquedos de infância, minha roupa preferida..não vou saber dizer ao certo. Mas essa experiência dos passeios de barco está viva na minha memória! Então, cada vez estou mais convecida que é isso que nos marca e é desta forma que entendo que temos que marcar nossos pequenos. Eles não precisam ter, precisam ser.

2 comentários sobre “O cheiro de gasolina da infância

  1. Carlos Dewnani disse:

    Primeira vez que leio Rafinha, adorei, continue sempre escrevendo dessa forma carinhosa sobre como devemos mostrar os verdadeiros valores aos filhos. Parabéns!
    Carlinhos

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