A mãe que eu não gosto de ser
Nos últimos meses, por conta do aumento no volume de trabalho, tenho sido por muitas vezes a mãe que não gosto de ser. A mãe que não pensa, que reage como se não soubesse ponderar e não tivesse discernimento das coisas. Dessa vez não me culpo, porque entendo perfeitamente minhas reações e explosões, o que de forma alguma as justifica. Mas o isolamento por tanto tempo começa a mostrar suas consequências em mim, o home office tem inúmeras vantagens, muito mais que desvantagens para mim, mas ele também ajuda a potencializar as coisas.
Na realidade, meus filhos têm sido uma bênção, eles não reclamam e agem como crianças de praticamente 8 e 5 anos que são. Mas não conseguir concluir uma linha de raciocínio estressa, porque a cada 5 min chega uma criança falando qualquer coisa e que eu estou zero interessada naquele momento (e talvez em qualquer outro). É o link da aula de inglês que chega no whatsapp no meio da reunião, é um saci pererê que tem que cortar o olhinho e fazer uma máscara, um boi bumbá de massinha….Além do que há uma parte da maternidade que sempre me irritou muito que é o momento da refeição, a introdução alimentar foi uma das fases que mais me tiraram a paciência: preparar algo e eles não gostarem, a sujeira, o esforço absurdo para a criança comer meia colher. Eu jamais teria capacidade de seguir o método BLW, por exemplo, que é basicamente dar a comida na mão da criança e ela desenvolver a experiência assim. Nunca nem pesquisei a parte positiva do método, porque só seria capaz de usá-lo se fosse para salvar a vida deles, não tenho estrutura para ver a criança sujar absolutamente TUDO e ficar em paz. E até hoje é um momento que me tira do sério, não mais pela sujeira, mas porque os meus demoram muito para comer, fico com dó de largar na mesa sozinho, mas zera minha paciênca toda para o período da tarde só nesse momento. Mas poder almoçarmos juntos todos os dias é uma das melhores coisas do home office, olha que loucura?!
Meu marido esses dias sugeriu, num momento de estresse meu e que eu saí falando um monte, que eu não trabalhasse na sala e sim no quarto da caçula. E assim eu fiz, dessa forma não fico no mesmo lugar em que as crianças brincam, fico longe da TV e elas não ficam me contando tudo que estão fazendo. Claro que continuam vindo no quarto, mas diminuiu muito o número de interrupções. Tenho me esforçado na minha rotina da manhã, antes de começar a trabalhar, que me ajuda muito a começar o dia bem, isso inclui 30 min de atividade física 2x na semana, tomar café em paz sem crianças, fazer minha devocional, ler um pouco. Manter uma rotina de horas de sono saudável também faz muita diferença para mim, para eu conseguir fazer tudo o que gosto de manhã, acordo cedo e portanto durmo cedo também.
E na maioria das vezes em que acho que me excedi, converso com eles, peço desculpas, explico o que houve; ou antes que eu estoure por completo eu já aviso que estou ficando nervosa, que preciso terminar alguma coisa muito importante, que não posso ser interrompida, esses combinados…
Mas de tudo o que falei, o que vejo como evolução, é que hoje consigo perceber que exagerei, consigo frear antes de explodir (porque minha vontade é explodir muuuuuito mais) e explicar para eles o que está acontecendo ou vai acontecer, caso eles não colaborem. Eles já são capazes de entender. E eu tenho tentado também compreender o quanto eles também foram privados e seguem isolados por mais de 5 meses. Sempre passa pela minha cabeça uma passagem na Bíblia que Paulo diz que o bem que ele prefere fazer ele não faz, mas o mal que ele não quer, ele acaba fazendo. É isso, eu não quero ser a mãe que apoia a mão na cadeira da mesa de jantar e grita 5x seguida “Para!” – fato real que virou piada depois que passou o pico do nervosismo.
Sei que não sou a única, sei que há casos muito mais desafiadores que o meu, não sinto culpa nesse tempo e acho isso incrível. É um dia de cada vez, no ínicio da pandemia eu pensava: cada dia que passa significa um a menos para o fim de tudo isso…não sabia que o fim iria demorar tanto. Continua sendo um dia de cada vez, tentando ser um pouco melhor e tentando identificar nas coisas do dia como posso fazer para tornar tudo mais leve, para mim e para quem está comigo. Destaque para o meu marido que tem sido meu suporte e parceiro nessa jornada de trazer leveza para nossas vidas. Sei que vai passar…
Existe beleza no casamento
Ser casado é um grande desafio. Acho que sempre deve ter sido, mas nos dias atuais mais ainda, a sociedade se mostra cada vez mais egoista, as pessoas buscando satisfazer suas próprias necessidades, atender seus interesses em detrimento de qualquer outra coisa. A única coisa que se compartilha atualmente são fotos bonitas nas redes sociais. Compartilhar a rotina diária, um mau humor, uma comunicação não muito azeitada, ninguém quer. Compartilhar fazer contas, compartilhar as diferenças que dificultam um consenso e manias irritantes menos ainda. Dialogar, ceder e se esforçar. Doar seu tempo e investir num relacionamento para a vida inteira, parece praticamente uma loucura. E o mais comum, são pessoas que se orgulham em apresentar todas as dificuldades que existem na contrução de um casamento (dificuldades que são reais), que fazem do casamento o tema de piadas repetidas, que a gente ri sem perceber, piadas que só colaboram para sedimentar a ideia de que casamento é furada.
E definitivamente não é. Primeiro que quem teve essa brilhante ideia foi Deus e a beleza está na outra infinidade de coisas lindas que também são compartilhadas.
Quer coisa mais linda, que faz a gente sorrir involuntariamente, que é dividir a cama numa noite fria com a pessoa que você mais ama? Compartilhar aquela piada interna que ninguém entende, tão pouco acha graça, mas a gente ri sempre? E celebrar uma conquista juntos? Uma promoção, a compra de um apartamento, uma viagem incrível, um pão francês quentinho com manteiga derretendo e aquele cheiro de café coado inundando a casa num sábado de manhã? Inegavelmente é delicioso, é um lugar bom de estar. Compartilhar o crescimento dos filhos…tanta coisa
Sou casada há 12 anos, não estou negando que ser casado e manter um relacionamento seja muito desafiador. Meu ponto aqui, e meu ponto sempre, é que as pessoas, principalmente as casadas (porque solteiros nem sabem sobre o que estão opinando) parem de rotular o casamento como um lugar de privações, de falta de liberdade, de marasmo. Porque definitivamente ele não foi desenhado para isso.
Aos domingos eu e meu marido, juntamente com outros casais, damos aulas para casais jovens, que ainda têm pouco tempo de casados. E a cada semana de aula vejo quanto ainda há a aprender, a ajustar e quantas possibilidades de tornar esse lugar ainda melhor. Acho que esse é um bom ponto a refletir, sempre haverá onde melhorar, em todos os aspectos da vida é assim, por que no casamento seria diferente? Começando em nós, porque a tendência é sempre achar que o outro é o único causador de todos os problemas. Todo mundo vacila, todo mundo tem suas chatices, seus dias ruins, fraquezas, mas vale à pena investir na construção de algo que quando a gente tiver 70 anos, vai olhar para trás e constatar que foi o melhor investimento feito.
A vida é muito puxada para não ser dividida, e mais que isso, ela é incrível para ser vivida sozinha e não ter com quem compartilhar. Verdadeiramente me dedico ao meu casamento, intencionalmente, a buscar formas de cada dia ter menos arestas.Sou uma defensora do casamento, além dos meus valores, acredito nesse modelo de vida, nesse dividir, nessa unidade na diversidade (para usar um dos termos bem utilizados nas nossas aulas). Essa é a beleza: unidade na diversidade. Acreditem!
Nem sei o que seria sem ela
A música sempre foi uma grande e fiel companheira, desde as minhas mais antigas lembranças. São capazes de me fazer sentir saudade de um tempo que eu nem vivi (como quando ouço qualquer bossa nova), de admirar cada vez mais o compositor, como quando eu ouço Chico Buarque, repito a letra com a boca e na mente repito “um gênio.” Elas me levam a lugares e épocas passadas, trazendo à memória os sentimentos que elas me despertavam nestas mesmas épocas, quase uma mágica. Tantas vezes elas me fazem chorar sem eu querer, me fazem dançar sozinha.
Nas duas últimas semanas, dois amigos postaram vídeos cantando e tocando “Onde anda você”, de Vinicius de Moraes. Coisa mais linda!! Sério, mesmo. Vi mil vezes cada um e pela primeira vez achei o sotaque paulista legal, combinou com a música, que Vinicius não me ouça. Esses vídeos que fizeram eu pensar em tudo o que compartilho através dessas palavras aqui…
O universo da música é o meu universo desde que me entendo por gente e não é força de expressão, lembro de esperar meu pai chegar com o disco da Xuxa novo em casa (não deixa de ser música). Nessa casa em que morava, meu pai sempre ouviu música muito alto e a casa inteira ouvia, essa parte já não era tão legal, mas assim fui exposta a muita música, conheci muita coisa e isso criou em mim e na minha irmã uma intimidade e um gosto por uma vida com música o tempo inteiro.
Nas minhas recordações de infância, sempre tem um cara tocando violão, as festas de aniversário, os encontros por qualquer motivo, o Natal…sempre tinha. Chegava na casa da minha avó sábado de manhã e minha tia estava sempre ouvindo Martinho da Vila “na minha casa todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba…”. Fui crescendo e lembro da minha mãe também sempre com um rádio enquanto fazia as coisas. Eu e minha irmã, assim que acordávamos, ligávamos o rádio do quarto, enquanto a gente se arrumava para ir à escola. Ouvíamos uns programas à tarde que gostávamos também…DJ Marlboro no Big Mix (um programa de funk, adolescentes cariocaas da década de 90 provavelmente irão se lembrar.) É engraçado pensar que naquela época precisava de mais disposição, para escolher a rádio precisava levantar de onde eu estava, para trocar o disco ou o CD também. Hoje, ouvimos uma playlist por horas seguidas sem precisar de qualquer esforço.
E assim cresci, gostando das mesmas músicas que curto desde sei lá quando, que ouvi com meus pais e meus tios. Continuo fazendo tudo com música de fundo, faço as coisas da casa, trabalho, meu carro está sempre com música…não é possível, para mim, viver sem. Conseguiria passar a vida sem ver filme, sem ver TV, mas sem música, jamais. Ouço para me animar, para cantar bem alto, para dançar nem que seja sentada no banco do carro dirigindo. E tantas vezes elas me emocionam sem eu querer, me arrancam um sorriso sem eu perceber e dizem um monte coisas que eu gostaria de dizer, coisas que sinto, que eu vivo.
Percebo que meus filhos curtem música, de ouvir, às vezes de dançar…identificam se a uma música triste, expressam verbalmanete que gostam de alguma específica, de algum trecho…isso me toca de verdade, me deixa verdadeiramente feliz. Porque tem algumas características qeu não podemos obrigar ninguém, mas algumas para mim elevam a pessoa no meu conceito e gostar real de música é uma delas.
Precisava desabafar

O que eu queria: me jogar e ficar ali
Nem eram 11h da manhã e eu já estava completamente sem paciência, a cota de paciência diária tinha se esgotado antes da hora do almoço. As crianças me estressaram demais, elas me fazem perguntas a cada 2 minutos, principalmente o mais velho. Eu vou comprar um dicionário para ele, certeza. Não estou brincando. Toda vez que ele quiser saber o que significa alguma coisa, ele procura no dicionário, já vou eliminar 50% das demandas dele. O dia já começou naquela vibe: “Mamãe, não fiz nada, não apertei nada, mas saiu do zoom”. M-E-U-D-E-U-S!! 8h da manhã e eu já estava perdendo a linha…Dei uma surtada de forma controlada aqui, se é que “surtada” e “controlada” cabem na mesma frase. Mas digo controlada porque eu expliquei exatamente como estava me sentindo e disse exatamente o que eu queria: eu estava muito cansada, eu estava nervosa e sem paciência; eu tinha um monte de coisa importante do trabalho para fazer, almoço para providenciar e isso estava me angustiando. E se eles continuassem a me chamar o tempo todo eu ia ficar mais irritada ainda, precisava que eles colaborassem. Pedi que ninguém falasse comigo mais, a não ser que fosse algo urgente, uma emergência e deixei bem claro: “Não quero saber como está o jogador do video game, não quero ver desenho de ninguém, não quero ouvir nenhuma piada, não quero saber o que a Laila fez com a Marinete/Lady Bug, não quero ver nenhum gol.” Claro como água e mais importante do que ser entendida, fui atendida. Eles choraram quietos num canto e contrariando a maioria das vezes, não fiquei com dó deles. Não deve ser a melhor maneira de se comunicar com crianças, mas foi o melhor que eu consegui. Passei o restante do dia à flor da pele, caía um lápis no chão e eu ficava com vontade de sumir. Fui dormir mega desanimada e acordei do mesmo jeito, porque as coisas tendem a continuar exatamente no mesmo cenário atual: sem aulas presenciais e eu trabalhando de casa. Então, vou continuar tendo que lidar com essas interrupções o tempo inteiro, eu já tenho dificuldade de me concentrar, com duas crianças dividindo a sala comigo então fica mais difícil ainda. Antes que perguntem se meu marido não divide comigo, o ritmo dele é muito pior que o meu, ele tem muito mais responsabilidades que eu, tem uma equipe de um tamanho razoável, então durante o dia ele mal sai do escritório (ou solitária, como carinhosamente chamamos). Como sei que tudo não dá e que tenho que escolher qual briga eu vou entrar, a casa é zero prioridade para mim. O que priorizo é o estritamente necessário para sobrevivência: comida, roupas limpas, louças lavadas. O resto é tudo mais ou menos, beeem mais ou menos. E está ótimo. Pela minha mínima sanidade mental, está maravilhoso.
Eu queria dormir e acordar com tudo mais ou menos estabilizado. Queria morar num lugar maior (quem sabe esse ano rola?), queria viajar, nunca tive tanta vontade de viajar e de ir à praia como nesses tempos. Esses últimos dois dias foram deprê total olhando o horizonte que temos, um horizonte que já melhorou bastante, eu sei.Mas longe de ser ainda o que era antes. Ainda vai rolar o que era antes? Alguém me diz, se souber.
Precisava desabafar, embora já tivesse desabafado no papel e verbalmente. Mas quanto mais desabafo, mais leve fica. E tudo o que tenho precisado e buscado, é leveza.
Não desiste!
Já falei algumas vezes que a organização não é algo que nasceu comigo, pelo contrário, quem nasceu comigo foi a prima dela, a desorganização. E desde que tive filhos minha novela diária é buscar viver de forma minimamente organizada, que não me traga prejuízos, atrasos e não me canse física e mentalmente sem necessidade. Por ser algo que me incomoda, procuro aprender sobre e melhorar minha vida. Muito longe de neuras, mas acabou que se tornou um assunto que eu gosto de estudar, de testar. Mas vou só naquilo que faz sentido para mim, cabides padronizados por exemplo não faz sentido para mim (rs). E muito mais do que físico, a organização das ações, das ideias, do como fazer super me animam, falta só praticar.
Hoje postei uma foto da mesa que trabalho no home office, vou espalhando todas as coisas, sem colocar de volta, isso ao longo do dia vai me irritando e na hora do almoço tenho que recolher 200 coisas, porque essa é a mesa onde fazemos as refeições. Dai fiquei pensando como podia minimizar isso, fiquei procurando o que me ajudaria e achei um aparador que ficava na varanda completamente sem uso e organizei minhas coisas ali. Ficou do meu lado, facilitando pegar o que preciso e guardar depois. Pronto! Ficou com uma carinha ótima e apresentável.
Arrumar o que é físico e externo é difícil e arrumar o que está por dentro? Ontem li uma passagem bíblica que falava da santificação, que traduzindo de forma bem rasa é arrumar o que está por dentro e arruma todos os dias. E arrumar o que está por dentro com base naquilo que agrada a Deus e eu sei o que O agrada. A passagem falava para persistir nisso, porque não é uma tarefa fácil e enquanto vivermos ela não terá fim. Hoje assisti um amigo falando exatamamente sobre a mesma coisa: santificação. Quando Deus fala comigo de maneira repetida sobre um mesmo assunto e num curto intervalo de tempo, entendo que é um sinal…rs
E ainda para quem não crê na Bíblia (o que é uma pena…), esse raciocínio também faz sentido, porque todo mundo tem alguma coisa que está fora do padrão. E não padrão estético óbvio, mas de relacionamentos, de atitudes, de posturas. E mesmo quem se diz alheio a padrões, no fundo, segue padrão sim. Embora pareça uma selva, vivemos em sociedade e algumas coisas já estão estabelecidas.
Não adianta a gente esperar mudar o governo, o marido/esposa melhorar, o filho crescer, a empresa nos reconhecer, a gente ganhar mais dinheiro, a gente se mudar de casa ou país, sempre vão existir todas as razões do mundo para a gente fazer o que é mais fácil, o que nos agrada e não seguir aquilo que é o mais adequado, o certo. O que eu chamo de “o que agrada a Deus”. “Não desista!” – foi o que entendi que Deus me disse abordando esse assunto comigo por dois dias seguidos. Cada dia uma nova chance, com oportunidades de melhorar sempre, com soluções que estão na nossa cara há tempos de ser uma pessoa melhor e a gente não viu, como o meu aparador que já podia ter me evitado o estresse da bagunça da mesa desde o inicio da quarentena, há mais de 4 meses.
Persista, sempre.
Investimento certo no futuro
Criar filhos não é exatamente um lugar de grandes certezas, a gente sempre traça um plano e ao tentar executá-lo, aparecem variáveis que não pensamos, que nem tinham como existir. Porque de uma semana para outra aquela criança pode começar a apresentar um comportamento completamente diferente. Quando menores então, isso é gritante. Você dorme com um bebê que não senta e acorda com o bebê sentado.
Mas uma certeza posso garantir que existe, garanto me baseando na verdade bíblica, mas caso você não creia nela, pode se basear na lógica mesmo (nesse caso dá certo). A garantia de que se nossos filhos não forem disciplinados enquanto crianças eles vão sofrer, mais do que com a disciplina em si. E nós pais, sofreremos também. Eu já falei algumas vezes, que eu tenho muita dificuldade em entender a ausência de disciplina. Eu me esforço de verdade, porque cada família tem o seu contexto, cada criança precisa de uma dinâmica diferente, elas têm personalidades muito diferentes. A gente que tem mais de um filho percebe isso facilmente, como com uma mesma carga genética podem ter duas pessoas completamente diferentes (essa parte fica mias difícil entender só com a lógica).
E nesse caso de ausência de disciplina, recuperar o tempo perdido pode ser uma tarefa ainda mais dolorosa. Se a criança passou a vida toda comendo vendo TV desde a introdução alimentar, vai ficar difícil aos 8 você mostrar para ela que isso não é bom. Se desde os deveres mais simples e rápidos da escolinha, você como responsável nunca sinalizou que isso é prioridade, aos 15 vai ser difícil ela aceitar que primeiro os estudos. Se toda vez que você vai a uma loja de brinquedos, você precisa comprar um presente para seu filho também, a mensagem é que ele pode ter tudo sempre. Se ela só fica calada com o celular na mão, ela nunca vai conseguir ficar tranquila sem alguma recompensa, não vai saber lidar com o tédio e zero habilidade em esperar sem ansiedade (acho que essa é uma das maiores dificuldades da nossa geração). Se ela não cumpriu o combinado, ela PRECISA ser punida. E punição aqui é o que vai causar um impacto nela, ela precisa perder algo. Esses dias minha caçula, protestando por ter sido contrariada, pegou a tiara dela e arremessou na parede. Chamei, dei uma bronca daquelas que ela começou a chorar e disse que ela ficaria a manhã inteira sem a tiara. Só poderia colocar depois do almoço, esse foi o castigo, a punição. Parece uma bobeira, mas sei o quanto a tiara importa para ela, ela veio ao longo da manhã umas 3 vezes me pedir para usar e nas 3 vezes disse que não e relembrei porque ela estava sem. A gente pode ser criativo nos castigos também. Rs!
O ponto é, como uma mãe de dois filhos, te peço humildemente, não permita que seu filho de 6 meses, de 2 anos, de 5 anos, de 8, de qualquer idade, te governe. Disicplinar é muito chato, dá muito trabalho, é cansativo, muitas vezes nos machuca realmente. Mas é um instrumento eficaz para mostrarmos aos nossos filhos que o mundo tem limites e que tudo nessa vida, em qualquer esfera, tem consequência. Talvez seja o único instrumento que temos para ensinar isso. Disciplinar não é falta de amor, não é falta de compreensão, não é tiranismo, não é autoritarismo, não é violência…não é nada disso e nunca será. Os pais ultimamente estão compreensivos demais, demais, a ponto de você não aguentar ficar 20 minutos com uma criança de 6 anos porque ela se tornou um ser humano insuportável, fruto desses pais que só compreendem e não disciplinam.
Para essa receita (que praticamente não tem padrão) dar certo, alguns ingredientes são obrigatórios: amor e disciplina estão nesta lista. E entenda que eles caminham lado a lado e não em sentidos opostos. Disciplinar nossos filhos é um investimento que fazemos na vidinha deles, na nossa e certamente na sociedade que no futuro receberá adultos bacanas ou mimados intragáveis, está na nossas mãos.
Você é uma pessoa interessante?
Consegue responder à pergunta do título confiantemente? Digo interessante por dentro, porque por fora é relativamente fácil. Comecei a pensar sobre isso mais intencionalmente quando meu marido fez um curso fora ano passado e vi o quanto a gente desperdiça tempo com o que é raso, superficial. Passado esse tempo, voltei e ouvi recentemente essa provocação: você é uma mulher interessante? Concordei integralmente e me acendeu um alerta sobre isso. Por exemplo, comecei fazendo uma limpa no meu Instagram e já que uso muito essa rede, deixei ali perfis de jornais e outra fontes de informações reais. Outro ponto, a maternidade por um tempo nos torna monotemáticas, focadas no assunto que rege a etapa em que nossos filhos estão: amamentação, desfralde, primeiros passos, fala, escolinha, etc e quando a gente vê eles cresceram, não precisam mais da gente 100% e a gente parou no tempo. Senta numa mesa e não tem um assunto diferente para conversar, nenhum tema que fuja daquele lugar raso que repete o que rolou nos feeds das redes sociais.
Não precisa ser a nerd, não ter momentos de relax e só ler jornal. Mas não dá para gastar a vida somente no “molezinha” de conteúdos descartáveis que explodem nas nossas telas. Em inúmeras conversas aqui em casa, sempre voltamos ao ponto de que precisamos ser intencionais. Intencional nas escolhas dos lugares que frequentamos, dos livros que lemos, na disponibilidade em aprender alguma coisa, mesmo que aparentemente não esteja diretamente relacionado ao nosso universo. Não precisa ter dinheiro, não precisa viajar, se puder é maravilhoso, mas a gente não precisa disso para aproveitar as chances que temos.
E quando a oportunidade passa, a gente tem preguiça, de se aprofundar, de prestar atenção, de crescer, de ouvir, de pensar… a gente não consegue mais focar em nada que nos demande um pouco mais. E isso tem nos tornado, ou melhor, me tornado pouco interessante ou no mínimo acomodada. Se permanecer assim, daqui a 10 anos estarei na mesma posição, falando das mesmas coisas, sem fazer diferença na vida de ninguém.
Acho que vale à pena a gente ter intencionalidade e investir um mínimo esforço nisso, lendo um livro, ouvindo uma música, conhecendo um lugar diferente, experimentando uma comida nova, ouvindo algo que aparentemente não tem relação conosco naquele momento, gastando tempo em ir além. Isso vai desde a leitura da Bíblia até conhecer um parque diferente na cidade em que eu moro há mais de 10 anos e nunca fui.
Sabe quando a gente viaja e não tem preguiça de conhecer os lugares? A gente percebe detalhes, a gente pergunta, a gente lê o nome da rua, come uma coisa estranha, anda no ônibus, no teleférico, a gente se cansa, mas não desperdiça nada. Esse seria um bom ponto de partida e um jeito de começar a ser uma mulher, uma pessoa mais interessante. Certeza que podemos tentar e teremos bons frutos a colher e o melhor, frutificaremos em quem está ao nosso redor.
Medo do “normal”
Descobri essa semana que precisaria participar de uma reunião presencial, a reunião me parece interessante. São dois dias de reunião de trabalho, inteiros, mas para discutir coisas muito interessantes e tenho certeza que vai ser uma oportunidade excelente para aprender, conhecer gente nova, estar junto das principais cabeças da companhia.
Mas ao mesmo tempo, me desestruturou por completo no dia que me deram essa notícia. Estou desde o dia 13/mar sem sair de casa. Saio para ir ao mercado, pegar compras na portaria e ir à casa da minha sogra. E ao mercado vou muito pouco, porque peço para entregar as compras em casa. São quase 4 meses vivendo nessa nova configuração de vida né? E me deu medo de sair. Vou passar o dia inteiro de máscara? É meu rodízio, vou precisar ir de Uber. Como faço? E na hora do almoço? Vai todo mundo sentar perto? E as crianças mais o nível de trabalho que o Diego tem…confusão e medo. Uma insegurança, uma sensação super esquista de simplesmente viver minha vida.
Conclusão: tive uma crise de choro, fiz uma pergunta para o Diego, ele não respondeu exatamente como eu esperava e isso desencadeou meu choro. Não consegui parar, sentei no banheiro, porque queria chorar em paz sem nenhuma criança me perguntando nada. Chorei o que tinha que chorar, lavei o rosto e voltei para as minhas planilhas e elaboração da apresentação para essa reunião.
Antes de retornar, fiz uma oração e procurei entender porque eu tinha me desestabilizado tanto com uma simples resposta do meu marido. Refleti e foi tudo isso aí que eu já disse, insegurança danada de sair dois dias de casa, não tinha nada a ver com a resposta dele. Aquilo foi só um gatilho para derramar o choro que estava preso em mim. (Parênteses literalmente: tenho conseguido, graças a n coisas que tenho lido, cursos que tenho feito, a me autoobservar e entender meus sentimentos. Parece bla-bla-bla, mas não é. Isso tem feito uma diferença incrível no meu dia a dia e a maneira como levo as coisas. Entendendo os meus gatilhos e minhas fugas).
É uma loucura tudo isso, que fase mais sem palavras para descrever o que temos vivido. Mais de 100 dias numa rotina totalmente solitária do ponto de vista de família, mas ainda não me sinto à vontade e segura para dar outros passos. As coisas parecem estar voltando, mas as mortes continuam diariamente. O ser humano se acostuma com tudo, feliz e infelizmente, porque acabou que nos acostumamos a ver óbitos diários e achar que a situação está melhorando. Em alguns lugares até pode estar, mas em SP não tenho essa certeza.
Ao mesmo tempo, pensei na angústia de todos aqueles que não interromperam suas jornadas de trabalho durante esse tempo. Quantas incertezas e dúvidas os cercaram principalmente no começo, quando ainda não tínhamos “nos acostumado”.
Sei que poder trabalhar de casa, por ter me mantido empregada, por meus filhos poderem continuar estudando à distância é um privilégio. É uma benção de Deus, sem dúvida. Mas também tenho aprendido que posso ter meus medos, inseguranças, insatisfações ainda que eu seja privilegiada em muitas situações. Continua sendo legítimo.
Mas vamos lá, nem lembro mais que roupas eu tenho para ir trabalhar, minha chave de casa sumiu na quarentena, meu cabelo está branco sinistro, não faço a unha acho que desde fevereiro, mas estou viva, com saúde e posso esquecer qualquer coisa para a reunião, menos o pote de álcool gel e minhas máscaras.
Eu nunca….
- fiz bolo de fubá
- fiz pão
- comprei e preparei espinafre
- ouvi um audiolivro
- estudei a Bíblia utilizando livro de comentários bíblicos
- usei salsão na comida
- deixei minha filha brincar de massinha pelo meio da casa
- deixei meus filhos bagunçarem total a sala, a varanda e todo o resto
- permiti o uso de tablets e TV meio sem critério
- fiquei tanto tempo sem ir fisicamente a uma igreja
- fui a um sepultamento com número limitado de pessoas
- usei máscaras
- trabalhei 100% remoto e com n ferramentas para viabilizar isso
- acompanhei e conclui uma série
- li tantos livros num curto espaço de tempo
- tive tantas sequências de noites mal dormidas
- coloquei louro no feijão
- montei quebra cabeça já adulta
- passei tanto tempo com meu marido e filhos ao longo de todo dia
- senti tanto medo de contrair uma doença
…até que o COVID apareceu, o isolamento social surgiu e 100 dias depois, a Quarentena me permitiu ver, viver e sentir muitas coisas pela primeira vez.